terça-feira, 13 de junho de 2017

REFLEXÃO SOBRE NOSSA TRAJETÓRIA EDUCACIONAL

Baseado na animação da Pixar:  PIPER - Descobrindo a vida  (Clique sobre o nome da animação para  assistir)

     Esta animação pode ser  abordada como ponto de partida para uma análise sobre como somos marcados pelas diferentes formas como fomos criados, tanto na família quanto na escola e sociedade, destacando também a cultura em que eles estão inseridos. Geralmente vamos aprendendo por necessidade, por imposição, por medo, por imitação ou curiosidade. Nem sempre questionamos os padrões  com que fomos "formados" pois, de alguma forma, sempre foi assim, desde sempre, vamos nos acomodando  e, sem nos darmos conta, nos fechamos nesta espécie de "caixa de certezas".
    Ao assistir esta história, podemos refletir sobre a educação familiar que busca dar autonomia aos filhos, preparando-os para enfrentar a vida. Passamos por  experiências que nos traumatizam, deixando marcas, e por descobertas que nos emocionam e entusiasmam. Também podemos colocar em questão junto aos alunos, a desinformação e até mesmo o preconceito entre culturas (como exemplo, as diferentes culturas oriental e ocidental). Muitos do ocidente herdam  a prepotência de serem a cultura dominante, a correta, detentora da verdade. Com este tipo de conceito as pessoas podem permanecer fechadas a novos pensamentos e formas de viver. Na animação, o passarinho (que pode ser representado pelas nossas crianças que ainda não são contaminadas por estes conceitos ensinados) relaciona-se com outra "cultura", representada por uma outra categoria de animal que se relaciona com o mar de forma diferente dele e possui atitudes diversas das aves. Como o passarinho se mostra aberto a novas formas de conhecimento, não possui preconceitos  e não julga,  teve uma oportunidade de aprendizagem que fez uma grande diferença em sua vida e, a partir daí, pode mostrar/ensinar o que aprendeu, através do contato que fez, à toda comunidade onde vivia.  
    A atitude de manter a mente aberta a novas possibilidades é primordial para as pessoas criativas e emocionalmente inteligentes. 

domingo, 25 de outubro de 2015

Livros, textos e resumos

Os materiais abaixo foram preparados por mim com o objetivo de compartilhar algumas leituras que ratificam, de uma forma geral, minha proposta política pedagógica como educadora. São resumos, extratos, cópias, entre outros, inspirados em autores importantes em minha formação.  Para acessar o material em pdf clique na imagem dos livros.
livros
 ANOTAÇÕES DA PALESTRA DE PACHECO E MARCUS DE MARIO

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PALESTRA  SOBRE O ENSINO DE ARTES NAS ESCOLAS  
Clique no cartão abaixo e veja as ideias principais  da apresentação em pdf.

quinta-feira, 26 de março de 2015

1ª FASE : Conhecimento da turma e autoconhecimento. Lidando com os "entraves" que nos impedem de expressar, comunicar, pensar criticamente e criar.


Os objetivos desta fase são definidos e direcionados ao desenvolvimento do "autor" e seus aspectos humanos, ou seja,  aqueles próprios do ser, não das técnicas e estudos teóricos do fazer artístico como muitas escolas abordam. Observo que, no início do ano, momento que os alunos não se conhecem ainda, não há um espaço adequado para a autoria. 
A criatividade e a expressão artística tornam-se prazerosos num ambiente de liberdade, quando nos sentimos seguros e auto confiantes, quando não nos importamos com os comentários dos outros ou não tememos nos expor: falando, cantando, dançando, encenando, desenhando etc. Os outros (platéia) e ambiente também influem muito. Por isso, respeito à diversidade de opiniões, preferências, tipo físico, etnias e crenças é exigido e cobrado desde o início das aulas.
Nesta fase, durante todo o primeiro bimestre, proponho atividades e dinâmicas para os alunos se integrarem, socializarem, desinibirem e  refletirem sobre sua realidade pessoal e social. Discutimos  e analisamos  os processos educacionais  por que passamos em todas as instâncias. Principalmente os processos decorrentes das influências da mídia e da sociedade capitalista que influem significativamente na formação de padrões de atitudes consumistas e massificadas. Identificamos também as "algemas" que herdamos, ou mesmo criamos, através destes processos educacionais. Bloqueios que nos impedem de ser o que somos, de manifestar todo o nosso potencial, que nos impedem de expressarmos e criarmos e não mais ficarmos na zona confortável de sermos como a maioria. Precisamos de coragem para ser e criar. A arte, neste caso, colabora neste processo como um meio (de libertação) e não como um fim (de produção).
Para exemplificar melhor, registrei em vídeo alguns depoimentos de alunos sobre a timidez e o resultado, em suas vidas, do desenvolvimento da expressão e criatividade propostos nas aulas de artes:1- Depoimento sobre timidez e outras dificuldades de comunicação

Rollo May, em seu livro "A Coragem de Criar"*, afirma que não existe ser humano que não seja criativo. Os mecanismos psíquicos e sociais que impedem a descoberta e a experimentação da criatividade de cada um são fruto da reação, pessoal e coletiva, contra qualquer nova forma de vida. Por isso, as duas condições para que a capacidade de criar se torne patrimônio comum de todos são a coragem e a liberdade. 
Tendo em vista estas considerações é necessário garantir
aquilo que Alícia Fernandes** considera espaço de autoria, um ambiente propício à expressão e criação, que estimule a coragem de ser e de criar. Pela minha experiência profissional, criar este ambiente não  é fácil. É como andar na "contra mão", refletindo, discutindo e corrigindo posturas padronizadas por uma sociedade marcada pela cultura de massa, pela valorização da cópia de modelos estereotipados, pela crise nos relacionamentos interpessoais, por preconceitos vários, sem mencionar a crise na educação familiar e escolar. Seria mais fácil partir para o ensino de técnicas e conteúdos  artísticos sem se importar com o "autor", o ser humano a minha frente. Enfim, nos posts Aulas, listo uma série de dinâmicas e exercícios que me auxiliam na construção deste espaço de autoria.





* MAY, Rollo. A coragem de criar. Editora Nova Fronteira - Para leitura CLIQUE AQUI:


** A obra de Alícia Fernandéz está expressa nos livros A Inteligência Aprisionada (1987), A Mulher escondida na professora (1991), O Saber em jogo (2001), Idiomas do Aprendente (2001) e Psicopedagogia em Psicodrama (2001). Para conhecer mais sobre a obra de Alicia, CLIQUE AQUI


AULA 1 - O PERFIL DO ALUNO NO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO

 LEVANTAMENTO DA REALIDADE DOS ALUNOS  
  

     Como em todo início de ano letivo, com uma turma nova, defino, como meta do primeiro bimestre, o conhecimento das características desta turma. Esta etapa, definida pela didática como "Estudo da população alvo", é, para mim, muito importante, pois preciso conhecer estes jovens, interagir com eles e socializá-los para que possamos juntos criar um espaço saudável e propício à criação. Muitos alunos vêm de outras cidades e regiões e chegam numa escola bem diferente daquela que até então estudavam. A liberdade que aqui encontram é um dos fatores que, para muitos, é novidade. Não há a figura do disciplinador de corredores, portão fechado e fiscalização contínua. Alunos acostumados a uma escola muito rigorosa podem se perder com tamanha liberdade, mas logo entendem que a responsabilidade vem como contrapartida para o sucesso no primeiro ano. Na verdade, o Cefet apresenta este binômio: liberdade-responsabilidade como fator importante para o desenvolvimento profissional e pessoal de seus alunos, pois são, no mínimo, 3 anos para que estes adolescentes se tornem profissionais competentes para iniciar uma carreira como técnicos.

        Os primeiros meses são como uma adaptação à nova realidade escolar e muitas vezes a uma nova realidade de vida pois, alguns alunos montam república na cidade e se distanciam do "controle" dos pais. Em sua maioria, são adolescentes entre 14 e 16 anos, com características próprias da adolescência, aliadas a dificuldades e bloqueios causados pelo processo educacional que vivenciaram. Cabe ressaltar que, neste processo educacional, incluo como responsáveis não só os professores e escolas, mas também pais, familiares, sociedade e a mídia.

        A princípio, realizo um questionário de conhecimento para fazer um levantamento do perfil destes jovens. Acredito que os conhecendo e detectando suas dificuldades e bloqueios posso traçar para o primeiro bimestre uma proposta de trabalho em que o foco não se concentre na arte como um fim mas, sim, no "autor", o ser humano que está a minha frente. Apresento, abaixo, alguns dados que julgo importantes para analisarmos como educadores:
     Observando os dados acima, constatamos que estes jovens chegam ao ensino médio com uma série de entraves à criatividade,  expressão e comunicação.
    Na tabela abaixo, verificamos que a porcentagem de participação em atividades artísticas é muito baixa, o que vem comprovar a ausência de espaços e políticas  culturais na cidade e região. A cultura da não participação também é evidente nestes dados, o que vem provar que a escola ainda está falhando na formação cidadã tão propalada nas leis de diretrizes e bases.
Nas tabelas abaixo, observamos o resultado da consulta sobre o que fazem no tempo livre durante a semana e no final de semana. Foram transcritos os dados relativos aos 3 itens mais indicados.
      Nossos adolescentes passam  uma grande parte do tempo livre envolvidos em atividades relacionadas ao computador e ao celular, segundo eles "relacionando-se" através da internet. No celular, a maior parte  do tempo até 2019, estavam envolvidos com aplicativos em ordem de preferência: WhatsApp, músicas e Youtube. Muitos trocam a rua por este hábito no fim de semana. Deixam de se relacionar 'ao vivo' com as pessoas para navegar e se encantar com um mundo virtual. Esta geração, diferente das anteriores, é mais "conectada"  e domina a tecnologia com muita facilidade. Em contrapartida, têm dificuldades de trabalhar em equipe, de comunicação interpessoal e de lidar com conflitos.  
      Um outro dado, alarmante para mim, é o lugar de preferência que Artes ocupa entre as demais disciplinas do currículo. Conforme o quadro abaixo, desde o ano 2000, quando iniciei a pesquisa, na maioria das vezes, a disciplina Artes esteve entre as últimas disciplinas preferidas pelos alunos, o que torna o trabalho no ensino médio ainda mais difícil pois, os alunos chegam com o preconceito de que a aula é chata, sem sentido, "uma enrolação" como muitos dizem .

    A partir deste quadro geral, comecei a aprofundar no porquê de tal resultado. Minha surpresa foi ainda maior quando comecei 
a ouvir os relatos de como são a maioria das aulas de Educação Artística nas escolas onde eles estudaram, ou seja,  antes de vir para o Cefet. Algumas escolas possuem a disciplina com a respectiva nota no Boletim mas, os alunos afirmavam que esta aula não acontecia ou não haviam avaliações. Em outras, o professor não era habilitado e quando possuía habilitação, não apresentava atividades que os alunos se interessavam.
Gráfico demonstrativo das atividades propostas
pelos professores de artes do Ensino Fundamental 

    No quadro ao lado, vemos um gráfico representativo das atividades que eles desenvolviam nestas escolas.
    Observamos que a maioria das atividades era relacionada à área de artes plásticas. Muito pouco encontrei da área de música e artes cênicas. Muitos afirmavam que quando tinham música era como pano de fundo para que fizessem um desenho relacionado ou o professor pedia para fazerem uma paródia. O teatro, pouco abordado nas escolas, em alguns relatos era um meio utilizado por professores de outras disciplinas para repassar seus conteúdos.
    Numa posição de descrédito, a disciplina Artes, desvalorizada pela atuação descompromissada de alguns professores, que muitas vezes alega falta de apoio da instituição, recebe  uma  das mais baixas notas.
   É nesse cenário desalentador, que vem  se repetindo a cada ano que, através de reflexões, análises, avaliações finais do curso e auto avaliações realizadas junto aos alunos, durante estes 33 anos de magistério, que desenvolvemos (eu e  meus alunos) uma metodologia ou melhor, uma sequência de atividades que têm apresentado resultados significativos quanto à desinibição, melhoria da expressão, da comunicação e do desenvolvimento da criatividade através de atividades lúdicas e da experimentação de diversas linguagens artísticas. 
        A minha ideia é disponibilizar neste blog, a mesma forma sequencial, passo a passo, etapa por etapa, possibilitando a todos os educadores uma compreensão, análise e reflexão da importância das artes nas escolas, ou melhor, na vida destes jovens e na vida de todos nós. 
      Começarei com as atividades do primeiro bimestre, que apelido de desbloqueio, onde preparamos o espaço de autoria, um espaço onde o respeito ao outro tem que ser obrigatório para dar segurança e incentivo à expressão e criação do aluno. Após esta fase, começamos a experimentar as diversas linguagens artísticas (plástica, sonora e cênica) sempre colocando a arte como um meio de facilitar a expressão, comunicação e criatividade. Ao final do ano, estes jovens já conseguem subir ao palco encenando/improvisando uma peça/história escrita por eles. É, neste momento, que recebo o mais valioso "salário": vê-los envolvidos, entusiasmados, com  alegria, descontração  e sem medo de pagar o tão temido "mico", combinando, ensaiando e mostrando seus talentos.  Ao final, apresentam seus trabalhos para uma plateia formada por alunos das séries seguintes que já passaram por este processo e que sempre aguardam, com muita expectativa, a semana de teatros da escola. Após a conclusão destes trabalhos finais, realizo uma avaliação do curso, da professora e das atividades propostas. Com estes dados, vou adaptando e melhorando as estratégias para os próximos anos e, desta forma. posso concluir, sem sombra de dúvida, que o ensino de arte abordado nesta escola (CEFET) colabora significativamente na formação pessoal e profissional destes jovens. Nos próximos posts, vocês encontrarão textos, relatos de experiências, depoimentos e imagens deste trabalho, bem como outros materiais e indicações/sugestões para  todos aqueles que queiram se aprofundar neste mundo maravilhoso, de infinitas possibilidades, que é o da Educação pela Arte. 

*Entrevista com os alunos do Cefet sobre o ensino de artes das escolas anteriores ao Cefet, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=NDzkFPsBwEg

Para aprofundar mais sobre a realidade do ensino da arte no Brasil, leia o artigo de Ana Mae Barbosa em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141989000300010&script=sci_arttext
AULA 2-Exemplos de  exercícios e dinâmicas aplicados na 1ª fase/1º bimestre:
DINÂMICA 1 
APRESENTAÇÃO DOS ALUNOS
 No primeiro dia de aula, com as cadeiras em círculo, os alunos se entrevistam (dois a dois), durante 10 minutos, para apresentarem o colega para a turma. A única exigência para  a apresentação é  iniciar  com a fala : Eu sou fulano...
Dinâmica de Socialização - 1º ano de  2010
Após a apresentação, peço a turma para comentar o que observaram enquanto as pessoas se expressavam. Dificuldades, facilidades, nervosismo, desinibição e inibição são percebidos pela postura corporal daquele que se levanta para expressar. Comentamos também a reação da platéia durante as apresentações: risadas, deboches, ironias, aplausos etc. Muito comum entre os jovens de nossa cidade e região a manifestação imediata, com risadas e deboches, quando, iniciando a dinâmica, o aluno homem apresenta uma colega : "Eu sou fulana", sendo que a situação  inversa não é "recebida" pela platéia da mesma forma.
Outro fato, que chama a atenção,  são as reações quando mencionam uma característica  fora do "comum" entre eles, por exemplo: Rapaz que gosta de poesia, dançar, ver novela; pessoas que citam programas que não sejam da rede Globo. Enfim, aqueles que são diferentes da maioria, principalmente em padrões impostos pela mídia, são recebidos por risos, deboches, piadas e outros comentários. Sempre que isso acontece, peço licença e interrompo para discutir o porquê das manifestações: Porque reagimos assim ao diferente? Temos que ser iguais? Temos liberdade de escolher?  Vocês "deixam" eu ver a novela tal da rede tal?
Estes questionamentos fazem com que o alunos comecem a pensar e refletir criticamente sobre suas posturas, tanto em relação a si mesmos quanto aos outros. Começam a descobrir que muito do que expressam são comportamentos aprendidos por imitação de posturas da família, escola ou meio onde convivem. Alguns alunos reconhecem que muito do que fazem ou falam acontece de forma instintiva: "Quando eu vejo, professora, já falei, a gente repete sem pensar, todo mundo faz isso!".
São muitos os temas que podemos trabalhar através das análises de dinâmicas como esta: desde os diversos tipos de preconceitos à violência, bulling, timidez, vergonha, dificuldades em trabalhar em equipe, falta de iniciativa etc.
Muito rico também é o momento onde os alunos, de uma mesma opção religiosa, explicam para os demais como é sua religião, seus princípios, crenças, ritos etc. Nesta aula podemos analisar a postura e as reações ao diferente. Quando assumem a postura de que "eu estou certo" ou " eu sou dono da verdade"  e tentam interromper a fala do outro, com comentários contrários ou depreciativos, eu esclareço que a dinâmica é para conhecermos os colegas. Respeitar não é concordar com o outro, mas aceitá-lo como diferente. Acrescento ainda que: Se de fato tivermos coragem de ser quem realmente somos, aí sim, seremos diferentes uns dos outros e, se tivermos coragem de ser, poderemos ter coragem de criar. Ressalto também a importância de termos certeza de nossas próprias escolhas, do pensamento crítico e reflexivo sobre o que escolhemos ser, se foi nossa própria opção ou influência do outro ou de uma situação onde nos acomodamos pelos modelos impostos pela família ou sociedade. É na adolescência que começam nossos primeiros passos/escolhas em direção ao nosso futuro. Decisões  que refletirão em nosso destino pessoal e profissional. Neste período, o adolescente está descobrindo e construindo sua própria identidade e não aquela que o pai, mãe, família ou sociedade deseja. É importante, para qualquer um de nós, para nossa felicidade e nossa realização, sermos autores de nossa própria história. 

AULA - 3        DINÂMICA 2 - 1º Bimestre

Dinâmica sobre Visão de Mundo

        Levo para sala: revistas, colas, tesouras, materiais para desenhar, cartolinas  e jornais
Trabalho em equipe - 1º informática- 2013
atuais. Divido a sala em grupos de trabalho. Na verdade, sempre divido a turma para que os alunos deixem de se agrupar de acordo com suas escolhas, o que muitas vezes acarreta as conhecidas "panelinhas". Analiso com eles que, se formos escolher, nós nos agrupamos por semelhança e  afinidades como, por exemplo: os que gostam de estudar, os que gostam de conversar, os que são da mesma escola de origem etc, etc. E, quando eles mesmos se dividem, fica sempre um pequeno grupo, ao final, como "excluídos". Segundo a análise da turma, eles são os que perderam crédito entre eles, por não gostarem de trabalhar, ou, por não serem muito conhecidos, ou são fechados, ou são aqueles que são os "chatos". Por isso, divido a turma chamando a  atenção para a necessidade de aprendermos a trabalhar com o diferente de nós, aquele que não quer trabalhar ou o que tem dificuldades para realizar o trabalho. Na verdade, esta vai ser a realidade pessoal e profissional  que vamos enfrentar na vida.
A proposta desta dinâmica é representar recortando, colando figuras, desenhando ou escrevendo, como eles veem o mundo que vivem e, no mesmo cartaz,  representar como seria o mundo que eles desejariam viver. Uma outra atividade paralela a esta, é uma análise, em geral, das notícias publicadas nos jornais. A equipe deverá apresentar um gráfico que demonstre, segundo opinião dos componentes, se o homem está evoluindo ou não.
O resultado é impressionante (Vejam as fotos abaixo  e nesta imagem postada neste blog).


Visão do mundo em que vivem
Há 10 anos aplico esta dinâmica e o resultado é sempre o mesmo. As imagens representativas do Mundo em que eles vivem é sempre marcada por cenas de violência, consumo, drogas, pobreza, preconceito, desastres ambientais, guerras, etc., ou seja, mostram sempre o aspecto negativo das relações humanas. No cartaz do mundo que desejariam viver aparecem imagens positivas como: amor, solidariedade, lazer, arte, sustentabilidade, igualdade social, etc. O resultado da análise da notícias também reforça este quadro. 
Reportagens que mostram a não evolução do homem, segundo eles, são em maior número do que as neutras (notícias indefinidas e propagandas) e daquelas que mostram aspectos positivos.
Visão do mundo que idealizam
Análise de Jornal de grande circulação nacional
Abril de 2013
 Após a apresentação em equipe dos cartazes e gráficos, iniciamos uma reflexão profunda sobre a forma como estes adolescentes vêem o mundo:
- Por que a visão é tão negativa?
Segundo eles, a televisão jornais e algumas revistas estão sempre dando destaque a tragédias o que dá a impressão que "o mundo está horrível". O medo, a desconfiança e a sensação de impotência são os sentimentos mais identificados por eles como consequência desta mídia sensacionalista. Alguns alunos chegam a comentar que: " a vida é assim mesmo, não dá para mudar o mundo...", muitos dizem que "nunca pararam para pensar nisto" ou "ninguém nunca nos falou sobre isto". 
Este cenário me remete a um artigo publicado numa revista de psicologia , página 156, que menciona:  
"Com a sociedade neoliberal, sob a ênfase do mercado e do consumo, envolvida nas questões tecnológicas e nas mudanças do padrão social e culturas das massas, a juventude vem sendo colocada em situação de grande vulnerabilidade social. Nascimento (2002) considera que os jovens parecem se encontrar encurralados dentro de condições sociais que aumentam em muito sua vulnerabilidade. Afirma: As representações sociais que se formam a partir das inúmeras informações, mediadas sobretudo pela mídia, não fornecem condições para que o adolescente planeje e articule ações como uma forma de superação da condição ou situação vivida, uma vez que estas informações se destinam muito mais à construção de modelos estereotipados de comportamentos para atender as demandas de consumo. Calligaris (2000) também tem refletido sobre a influência da pós-modernidade e do neoliberalismo sobre a emergência da adolescência. Para ele, a juventude tem sido investida de um imenso valor de consumo, sendo eleita como ideal de vida. Assim, a indústria de consumo  não só absorve como investe em valores e estilos adolescentes, elastecendo mais e mais esta fase e tornando cada vez mais difícil se afastar do desejo adulto da adolescência. Como diria o autor, “a adolescência, por ser um ideal dos adultos, se torna um fantástico argumento promocional”. Como a adolescência assume o ideal social, fica difícil sair deste lugar. Fica difícil e custoso envelhecer, quando a aspiração social é habitar a adolescência."
Pesquisa sobre o interesse dos jovens por política
 Fundação Perseu Abramo
      Se adolescentes de 15 a 17 anos já perderam a esperança e estão desmotivados o que será do mundo quando eles forem adultos? Esta deveria ser a idade dos sonhos, de acreditar, lutar por uma causa e participar de movimentos sociais ou políticos como faziam os jovens de gerações anteriores. O que vejo à minha frente são jovens alienados das questões sociais e políticas. Não se interessam e não participam destas questões, como vemos, ao lado,  nesta pesquisa publicada na revista Veja de 02/08/00.
 A vivência social e política também não são estimulados em nossa cidade pois, não há estímulo à formação de grêmios estudantis, espaço onde eles poderiam estar experenciando estas ações e ou discutindo ideias e propostas de mudança. 
    Esta visão de mundo é o resultado de um direcionamento e manipulação provocados pela mídia que busca apenas aumentar sua audiência através de notícias sensacionalistas. Se nos prendermos e, pior, acreditarmos nesta única visão de mundo, se nos mantivermos "distraídos" de nossa realidade mais próxima, parecerá lógico sentirmo-nos impotentes e desesperançados em relação ao ser humano e seu futuro. Segundo Rubem Alves esta "Distração é atração por um outro mundo. Se os professores entrassem nos mundos que existem na distração dos seus alunos, eles ensinariam melhor. Tornar-se-iam companheiros de sonhos e invenção."
Precisamos, educadores e alunos, mudar o foco direcionando-o para o mundo em que nossa ação pode fazer a diferença, ou seja, contextualizar,  trazer a nossa percepção para a realidade mais próxima de nós como, por exemplo: nossa casa, rua , bairro, escola, sala de aula, etc. Quando olhamos a nossa volta, percebemos que o mundo que queremos está aí e o mundo que é divulgado nem sempre se configura nas proporções anunciadas pela mídia. Enfim, refletindo sobre nossa percepção de mundo, chegamos ao momento em que precisamos decidir de que lado queremos estar: permanecermos com esta visão negativa, colaborando na manutenção do mundo/paradigma divulgado ou acreditarmos em outra forma de ver ou viver, colaborando na construção de um mundo possível. Quando não tomamos uma "posição" ou nada fazemos em relação a isto, o mundo/paradigma continuará como está. Seremos omissos, alienados e acomodados. Na verdade, esta não é uma postura de uma verdadeira educação. Acredito que a função da escola não é repetir o mundo retratado pelos meios de comunicação de massa mas, levá-lo para a sala de aula, para ser questionado, pensado e analisado, para que, desta forma, possamos atuar nele, através de todo o conhecimento adquirido, de forma criativa, solidária e, principalmente,  acreditando que um novo mundo é possível.
Tendo em vista os paradigmas acima mencionados, podemos traçar ou apresentar este quadro comparativo para  visualizar melhor os diversos tópicos que, conforme a turma, podem direcionar as discussões e análises:
Adaptação da apresentação da OSCIP FELIZCIDADE de Leopoldina/MG
Esta aula, sobre a visão de mundo,  é fundamental para que eu possa traçar, junto a minhas turmas, qual vai ser o direcionamento do nosso curso de artes. Coloco duas propostas para votação e análise: 1- Manter o paradigma, representado à esquerda do quadro, realizando atividades como as que eles já conhecem nas escolas anteriores e que já foram registradas neste blog na etapa do traçado do perfil do aluno (Neste paradigma a arte é tratada como fim). 2- Apresento a opção de inovarmos, realizando atividades em artes que promovam a transformação deste mundo mais próximo.(Neste paradigma a arte é tratada como meio).
Para mediar a votação escolho dois alunos que irão "advogar" as opções. Assim a decisão cabe a eles - experimentar uma proposta totalmente nova ou permanecer no mesmo modelo de aula de artes, já conhecido por eles. Nestes anos todos, a nova proposta é sempre a mais votada e, a partir do resultado, estabeleço um compromisso "entre as partes" de experimentarmos, estudarmos e desenvolvermos este novo paradigma, pelo menos durante as aulas de artes. Portanto, a partir desta escolha,  comprometemo-nos com a construção de um espaço de autoria que desenvolva a reflexão, percepção, expressão, solidariedade, criatividade e outros aspectos necessários à construção deste novo modo de se relacionar conosco mesmos, com os outros e com o ambiente,  através de diversas atividades que promovam a aprendizagem vivencial.
 Nesta forma de aprendizagem, conforme descreve o estudioso do assunto, David Kolb, o processo de aprendizagem é uma situação ativa, viva e que, portanto, privilegia a experiência prática e a vivência do aluno, tornando mais frutífera a estruturação do conhecimento. O aluno é agente ativo e parte indissociável neste  processo. Seguindo este princípio, as dinâmicas ou trabalhos artísticos promovem uma VIVÊNCIA, que, após concluídos, desencadeiam um relato dos sentimentos, emoções e reações em relação a vivência; A partir daí podemos realizar uma avaliação da própria participação na vivência; É o momento em que checamos nossas leituras de mundo e convicções; nos deparamos com pré conceitos, reforçamos e revemos conceitos, onde estabelecemos o compromisso pessoal com as mudanças percebidas como necessárias, tendo em vista o acordo estabelecido.

 http://www.revispsi.uerj.br/v7n1/artigos/pdf/v7n1a13.pdf  
CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. 
NASCIMENTO, I. P. As representações sociais do projeto de vida dos adolescentes: um 
 estudo psicossocial. 2002. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação, PUC de São Paulo.




** ALVES, Rubem.Texto disponível em  Ensinar, Cantar, Aprender - p 31



Para aprofundar mais sobre as relações entre educação e "um novo mundo possível" :
- Acesse : Leonardo Boff - Forum Mundial de Educação : Parte 1 , Parte 2, Parte 3 e Parte 4
- Acesse: Texto de Moacir Gadotti, incluído neste Blog: Fórum Mundial de Educação: Origem, Projeto e Consolidação

Outros textos complementares de minha autoria:
Educação pela arte
Relato de experiência
Consumistas ou cidadãos, o que somos afinal?